
Observatório Juventudes na Contemporaneidade FCS - Espaço de análises profundas da realidade social do país, de Goiás, a partir do cotidiano da juventude
Prezados/as,
Ontem era para ter sido um dia histórico. O Observatório da Juventude de Goiás foi instalado na FCS (UFG) com apoio e participação do nosso Diretor, professor Dijaci, e diversos docentes e discentes da UFG. Fruto do empenho e trabalho coletivo de pesquisadores e ativistas sociais de diferentes instituições (UFG, UEG, PUC, Institutos Federais, CAJUEIRO), este projeto tem seu início marcado pela colaboração de experientes analistas da realidade juvenil, entre eles Luis Groppo, um dos principais sociólogos da juventude do Brasil, e Hilário Dick, talvez o primeiro estudioso do tema no país.
Todavia, era para ter sido um dia histórico, mas não foi. Isto porque dois casos de mortes violentas de jovens em Goiás nos abalaram profundamente.
O primeiro foi o caso do jovem Bruno que morreu de embolia pulmonar no Hospital Hugo. O rapaz, que trabalhava de entregador, deu entrada na segunda-feira após sofrer um acidente de moto. Ele estava com a perna quebrada e tudo indica que a demora no atendimento foi o principal motivo de sua morte nesta quinta-feira. Ausência do Estado!
Um dia antes, na quarta-feira, outro caso inaceitável. Trata-se do assassinato do jovem Antonio em Inhumas (veja manifesto do Ser-tão emwww.sertao.ufg.br). O menino foi torturado e morto. Dentre os motivos apontados pela polícia, a homofobia. Mais um caso de ódio e desrespeito com o diferente. Ausência da Sociedade!
Estas duas mortes são exemplos concretos da difícil realidade em que vivemos. A falta de consciência social, de respeito e tolerância, acompanhada do profundo desmonte do Estado brasileiro nos coloca em uma situação de quase desespero. Mas não podemos nos acomodar. É preciso dar respostas.
O Observatório Juventudes na Contemporaneidade não irá desconsiderar essa realidade e pretende desde seu nascimento se posicionar firmemente em defesa dos interesses dos grupos sociais desfavorecidos. Especial atenção é dada aos jovens que são na maioria das vezes as primeiras vitimas das crises sociais e desarticulação dos serviços públicos.
O Observatório pretende ser espaço de análises profundas da realidade social do país, de Goiás, a partir do cotidiano da juventude. Chega de preconceitos da sociedade e desmonte do Estado, temos que municiar a opinião pública com análises adequadas acerca da sociedade. Assim, certamente daremos uma contribuição para as necessárias e urgentes transformações sociais.
Flávio Munhoz Sofiati
Abaixo artigo publicado em 11 de setembro no jornal O Popular.
O lugar do jovem na sociedade
Flávio Munhoz Sofiati
Os desafios de compreensão da realidade social dos jovens se expressam nos preconceitos presentes no cotidiano do brasileiro. Soluções fáceis e violentas são constantemente defendidas por auto-proclamados sabidos do assunto. Entretanto, entender a situação da juventude é um processo complexo e peça chave de análise do mundo contemporâneo. Isso porque esse segmento social é quase sempre o primeiro a sentir os efeitos das crises acompanhadas da ineficiência de ação do Estado.
Nestas eleições de 2014, por exemplo, há diversos candidatos, principalmente a deputado Estadual e Federal, que defendem a redução da maioridade penal com mecanismo de diminuição da violência e criminalidade. Muitos destes candidatos sabem que tal medida não resolve este grave problema social, mas defendem a redução por objetivos eleitoreiros, considerando que parte da população apóia estas iniciativas. Entretanto, se prender e matar resolvesse algo, já se teria resolvido, visto que a principal política pública de juventude dos Governos é o próprio sistema prisional.
As estatísticas oficiais indicam que a população majoritária dos presídios brasileiros é composta por jovens do sexo masculino, de pele negra e classe social desfavorecida. Este mesmo público é a principal vítima de mortes violentes no país. Luiz Eduardo Soares, especialista no tema da violência, chega a afirmar que essa população no país morre em quantidades maiores do que sociedades em guerra.
Há, portanto, um processo de extermínio de jovens no Brasil. Os que não morrem são encarcerados. Isso ocorre há décadas, mas a situação não melhorou. E os jovens continuam sendo abordados pelas grandes redes de comunicação, que influenciam a opinião pública, como protagonistas de violência e criminalidade. Porém, as pesquisas também mostram que eles são as principais vítimas dessa situação.
Tudo isso indica que é preciso fortalecer os estudos sobre a condição atual da juventude brasileira para que, entre as diversas necessidades, as políticas públicas do setor sejam adequadas e visem resolver de fato o problema. Diante deste desafio, um grupo significativo de pesquisadores em Goiás, participantes de diversas instituições de ensino e pesquisa, ativistas sociais e interessados no assunto, deu início ao processo de instalação do Observatório da Juventude na Contemporaneidade.
Gestado há mais de dois anos, o Observatório tem com objetivo articular, estimular e viabilizar estudos acerca da realidade do jovem brasileiro e principalmente goiano. Esta iniciativa se inspira nas experiências de Minas Gerais e Rio de Janeiro que possuem Observatórios ativos e com papel importante nas pesquisas sobre as juventudes.
A instalação será feita nesta quinta-feira, 11 de setembro, na UFG (Faculdade de Ciências Sociais – CAMPUS II – Auditório Lauro Vasconcelos), em seminário que contará com a participação dos pesquisados envolvidos no Observatório e interessados no assunto. Além disso, haverá a conferência com o Prof. Luis Groppo, citado entre os principais pesquisadores de juventude no Brasil. Contaremos também com a presença de Hilário Dick, padre jesuíta e um dos primeiros estudiosos do tema no país.
Com o funcionamento do Observatório, além de pesquisas, pretende-se colaborar com as políticas e programas voltados para o público juvenil no Estado. Espera-se que esta iniciativa diminua o preconceito e a desinformação acerca da realidade do jovem. Pois o mais importante é compreender que lugar de jovem é na escola e não na cadeia.
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Flávio Munhoz Sofiati
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Ciências SociaisPrograma de Pós-graduação em Sociologia
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Source: prof. Flávio Munhoz Sofiati